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Ela incendeia os palcos!

Durante 14 anos, ela deu vida à querida Dona Nenê em A Grande Família. Agora, os paulistanos podem vê-la num papel totalmente diferente.
Em cartaz no Teatro Faap com a peça Incêndios, Marieta Severo interpreta Nawal, uma libanesa que é obrigada a abandonar seus filhos em meio ao caos da guerra no Oriente Médio.

Por Malu Bonetto
Foto Welllington Nemeth

Marieta Severo

Oque esperar de um texto que foi adaptado em diversos países, recebeu prêmios pelo mundo e que tem como protagonista, na montagem brasileira, Marieta Severo? Mais prêmios! Escrito pelo autor libanês Wajdi Mouawad, a versão nacional de Incêndios é dirigida por Aderbal Freire-Filho – vencedor do prêmio Shell de melhor direção pelo trabalho – e conquistou quatro das dez categorias em que concorreu no prêmio APTR (espetáculo, atriz, atriz coadjuvante e cenografia). Texto esse que, depois de uma concorrida temporada carioca e apresentações em Belo Horizonte, Porto Alegre e Vitória, entra em cartaz em São Paulo. Na montagem brasileira, Marieta dá vida à personagem principal, Nawal, mulher de origem árabe, ex-militante política que foge da guerra civil do Líbano, enfrenta as dificuldades de ser mulher na região, busca incansavelmente pelo filho perdido e passa seus últimos anos exilada no Ocidente, onde morre e deixa em seu testamento uma missão nada fácil para seu casal de filhos gêmeos: encontrar o pai que eles achavam que havia morrido e o irmão que eles nem sabiam que existia. E é aí que começa a busca pelas origens da família. Interpretar a protagonista Nawal da juventude aos momentos finais, passando pela adesão à guerrilha, tem um valor especial para Marieta. “Quando recebi o convite do Felipe De Carolis (que na peça vive um dos gêmeos) para protagonizar Incêndios, logo me rendi às qualidades teatrais do texto. A maneira como a história é contada, a narrativa contemporânea, cria um suspense que intriga a plateia. É uma história de promessas não cumpridas e de violência da guerra civil.”
Coincidência ou não, essa situação é semelhante a que Marieta passou no Brasil, na ditadura militar, ao lado do cantor Chico Buarque, com quem viveu por 30 anos e teve três filhas. “Falo dos meus fantasmas, dos fantasmas da minha geração. Optei por não ouvir relatos reais, já que é um assunto delicado para se tocar, mas fiz muita pesquisa, li muitos depoimentos e dedico minha interpretação à estilista Zuzu Angel, que viveu o drama da busca pelo filho desaparecido durante a ditadura militar no Brasil e com quem convivi e acompanhei sua história.”

 

Marieta não é só Dona Nenê

Ok, foram 14 anos presente nas casas brasileiras com esse personagem, mas óbvio que já houve e virão outros personagens na carreira consolidada da atriz. Com mais de 50 anos de profissão, Marieta acumula mais de 30 peças de teatro, 32 personagens no cinema, 20 novelas, sem falar das diversas participações em séries e programas especiais da TV Globo. Filha de um advogado e de uma professora de inglês, ela sonhava em ser bailarina e estudou balé clássico durante anos. Mas foi durante os estudos no Instituto de Educação, para ser professora primária, que ela conheceu e se apaixonou pelo Teatro Tablado, uma escola de dramaturgia do Rio de Janeiro. Em 1965, quando foi acompanhar uma amiga num teste para uma peça de teatro, acabou sendo convidada para um papel no filme Society em Baby Doll. A paixão pelos palcos hoje é tanta que em 2005, ao lado da amiga e também atriz Andréa Beltrão, Marieta inaugurou o Teatro Poeira no Rio de Janeiro, e alguns anos depois, as duas abriram o Teatro Poeirinha para abrigar peças menores.

 

Fim de um ciclo

No dia da entrevista, que também era o dia em que foi ao ar o último episódio de A Grande Família, Marieta se mostrou saudosa ao relembrar os 14 anos em que interpretou a Dona Nenê. “Assim que soubemos que seria o último ano da série, fomos nos despedindo aos poucos. Sabíamos que eram os últimos encontros com essa família. Sentar em volta daquela mesa simboliza muito, era um momento familiar dos atores, um momento em que nos divertíamos”. E foi
justamente por mostrar uma família que sabemos que existe, sim, fora da telinha, que o programa se despediu com grande aceitação e altos índices de audiência. “Conversávamos muito sobre não encerrar o programa com ele sendo rejeitado pelo público. Também houve um acordo entre os atores que, depois de 14 anos, era hora de seguirmos novos projetos.” Foram tantos anos vivendo o mesmo personagem que Marieta obviamente se emociona ao relembrar. “Gosto do jeito como a Dona Nenê vê as coisas, sempre através do coração e do amor, a capacidade de compreender todo mundo daquela família, cada indivíduo, inclusive o Agostinho.” Já saudosa, ela conta que se dedicar exclusivamente a Incêndios também é uma maneira de não sentir tanta falta da Nenê. “No último capítulo, houve uma homenagem aos personagens, uma maneira de mostrar que a Dona Nenê existe independentemente de mim. Ela e os outros personagens podem ser feitos por outros atores, como foi nesse capítulo. Nossos personagens continuarão existindo no coração e na imaginação do público”, finaliza.

Serviço:
Incêndios
Teatro FAAP – Rua Alagoas, 903 – Higienópolis, São Paulo – SP

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