Go Where – Lifestyle e Gastronomia

Ela cresceu

Ela não toma sol há 10 anos – mas a ex-cantora teen e apresentadora infantil adquiriu luz própria para disputar os domingos.
 

Há pouco, a apresentadora Eliana deixou a Record para estrear no SBT, emissora que a projetou há 20 anos. A decisão, ousada, mostrou-se acertada: o programa, formatado para a família, caiu no gosto do público. Na guerra dominical por audiência, ele normalmente se mantém na vice-liderança. Para a estrela, o sucesso se deve a muito trabalho, comprometimento, liberdade para criar e a preocupação em levar para as pessoas, mais do que entretenimento, informação. A ex-cantora e apresentadora de programas infantis se tornou uma comunicadora madura e empresária de sucesso. Sua última incursão no mundo dos negócios é a Editora Master Books – com a proposta de abrir espaço a novos talentos, dentro do segmento arte e cultura. Além disso, Eliana tem cerca de 60 produtos licenciados em seu nome e muitos projetos na cabeça. Entre eles, o de retomar a carreira de cantora e fazer um programa na TV fechada. Aos 36 anos, a menina de família simples, que um dia sonhou em ser modelo e trabalhar na TV, se transformou numa mulher segura e que não gosta de falar sobre sua vida pessoal, mas que acabou confessando: ser mãe ainda está nos planos. Nesta entrevista, ela revela as suas várias faces. Entre elas, a de ter se tornado uma linda mulher.

Em agosto de 2005, você estreou na Record com um programa para o público adulto e entrou para o hall dos grandes apresentadores de domingo, ao lado de Fausto Silva, Sílvio Santos e Gugu. Você deixou de ser apresentadora infantil na hora certa?
Foi um movimento muito natural, era uma necessidade minha como profissional. Eu já fazia programas infantis há 16 anos. Sugeri para a emissora e eles me deram essa possibilidade. Fiquei quase um ano fora do ar para me preparar. Canalizei minha terapia nesta transição do público infantil para o público família – até minha fonoaudióloga. Não era um programa noturno, então a princípio não haveria um choque de imagem, de conteúdo. As crianças poderiam continuar assistindo. Eu continuei fazendo as minhas viagens, mas aí com foco na família, na mulher. E fiquei muito feliz com o resultado, que apareceu já nos primeiros seis meses. Estava todo mundo querendo inovar. Foi uma transição muito bem sucedida, principalmente por eu ser a única e primeira mulher neste hall de homens – quase um Clube do Bolinha aos domingos até chegar a Luluzinha para disputar espaço.Você começou na TV com…
Com 16 anos, estava iniciando também na faculdade de Psicologia. O Silvio é que foi o visionário. Que loucura. Fizemos as contas juntos outro dia no Troféu Imprensa. Já faz 20 anos! Eu tinha saído do grupo onde eu cantava e, ao ir para o SBT, tive que parar a faculdade no terceiro Capa Eliana ano. Tudo porque eu gosto de entrar para me envolver. Sou muito engajada, intensa, tudo o que você vê no programa tem a minha participação, o cenário, a equipe, o conteúdo. É a minha vida. Eu amo meu ofício. Na foto ao lado, Eliana participa de ritual de boas vindas da tribo ue a recebeu na Amazônia.

Como foi o seu ingresso na carreira artística? Sempre quis, desde pequena. Mas fui atrás, ninguém bateu na minha porta e disse “que menininha engraçadinha”. Levei muito ‘não’ na cara, foram horas e horas de testes, minha mãe sempre me apoiando, apesar do meu pai dizer que eu tinha de estudar. Eu tinha uns seis anos, já estava me alfabetizando, fui ao centro da cidade com a minha mãe e vi um papel no chão escrito “cursos para modelos”. Bati o pé e fomos a vários, bem picaretas, que pegaram o nosso dinheiro. Até que entrei num curso sério, que me colocou em agências quando eu tinha entre 10 e 11 anos. Fiz alguns comerciais de TV, desfiles, ai entrei no grupo A Patotinha, depois no Banana Split e foi ai que o Silvio me convidou para ser apresentadora. Eu podia ser cantora, mas ele disse que eu tinha completa competência para ser uma apresentadora.
Hoje são quantas horas por dia de trabalho?
No dia de gravação, eu fico, em pé, nove horas. Eu paro 20 minutos, junto com a equipe, para a troca de plateia. Como tem muito conteúdo, a gente sempre grava a mais para depois editar as melhores partes. Programa gravado é bom por isso: você consegue lapidar.
Como foi o retorno ao SBT, após tantos anos fora?
Incrível! Eu sempre sonhava em receber um convite de volta, mesmo estando feliz na Record. E pensava: “Será que o Silvio Santos não está, de alguma maneira, olhando e observando meu crescimento profissional?” Como foi ele quem me deu a oportunidade de ser uma apresentadora, eu sempre imaginava um retorno. Depois que me despedi dele, fiquei 11 anos na Record e sem contato. Após esses anos todos, recebo um telefonema dele me convidando para voltar. Foi maravilhoso. Eu fiquei estourando rojão! (risos). Foi bom voltar com um olhar mais maduro, depois de ter passado por muitas mudanças. Hoje, dividir os domingos com o Silvio Santos é uma grande honra. Eu me sinto em casa e isso é muito legal. A emissora é muito família. Pessoas passam a vida trabalhando lá. Em todos os departamentos, há sempre alguém que me conheceu lá atrás.

Você se inspira em alguém?
Procuro observar muito. A inspiração vem de dentro, é muito íntima de cada profissional. Não adianta você querer ser ou querer parecer. É preciso acreditar que você pode, e foi assim comigo, desde o início da minha carreira. Mas existe uma admiração muito grande por vários profissionais. Eu adoro o Jô Soares, faz um talk show maravilhoso. Dos estrangeiros, a Oprah Winfrey também adoro. É fácil perceber que ela é muito envolvida no processo de produção e não apenas uma apresentadora. Não acredito em você receber uma pauta da produção minutos antes de entrar no ar e pronto. Isso não é genuíno.
Como você define hoje o seu programa?
É um programa de entretenimento aos domingos, familiar, onde não há nenhum tipo de constrangimento para a avó, para a criança que está assistindo. Acima de tudo, além de entreter, não passar em branco, ou seja, apenas divertir não interessa. Eu gosto de passar informação, conteúdo de qualidade. Por exemplo, eu tenho hoje um quadro no programa que faz muito sucesso e se chama “Doutor responde”. São um ginecologista e um obstetra falanso sobre saúde da mulher. Há cidades no País onde não existem ginecologistas e as mulheres, aos assistirem ao programa, podem tirar as suas dúvidas. Nós recebemos milhares de e-mails toda semana. É maravilhoso para mim poder prestar esse serviço à sociedade.
Essa é uma das funções da televisão.
Sim, mas quando você fala em programa dominical, o entretenimento me parece o mais importante. Mas acredito que é possível divertir e educar ao mesmo tempo. Tenho no programa professores da USP que ensinam Física e Química, através de um show com experiências. Tem também o biólogo Sérgio Rangel que está comigo há 16 anos. Juntos, fazemos viagens pelo Brasil.O que você gosta de fazer em São Paulo quando sobra um tempo livre?
Coisas simples. Estar com minhas amigas, ir a bons restaurantes. Aliás, amo comer bem. Pequenos prazeres. Gosto de ir ao cinema, teatro e, se por algum motivo, eu quiser dar uma espairecida fora da cidade, tenho um apartamento no Rio. Lá é outra energia, praia, rasteirinha…
E aí você consegue pegar um sol?
Não, faz dez anos que eu não tomo sol. Mas é por opção. Eu nem lembro mais. Adoro estar em contato com a natureza, com a praia, mas sol mesmo, eu corro dele!

Como é você cuida da saúde e do corpinho?
Não me privo de comer coisas deliciosas em função da beleza. Evito frituras, refrigerantes, mas não sigo nenhuma dieta do tipo “não coma isso”. Nunca fiz e olha que já estou com 36 anos. Faço ginástica, ioga, confesso que detesto fazer musculação, mas eu preciso. Depois dos 30, é pouco, meu Deus… senão cai tudo (risos). Desde os três anos eu sempre fiz alguma coisa: balé clássico, natação, enfim, nunca deixei de fazer esporte na minha vida.Quem é a Eliana hoje?É difícil se autodefinir. É mais fácil as pessoas falarem de você. Eu posso dizer que eu sou uma profissional dedicada, feliz e realizada por sempre buscar o novo, evoluir, crescer, aprender. Eu sou uma eterna aprendiz.
Quais as diferenças da Eliana no início de carreira e hoje?Além da idade? (risos). Sou mais segura, comigo mesmo, com minhas decisões. A maturidade traz isso.Como você se sente sendo a única apresentadora disputando com grandes comunicadores no horário nobre aos domingos? Faz bem ao ego?O ego é uma coisa ruim, não ajuda em nada. Me vejo como uma profissional comum, que também precisa batalhar, se envolver para ter bons resultados. A diferença é que estou na TV, sou uma pessoa pública. Audiência é uma consequência. A gente precisa primeiro fazer o jardim para depois esperar as borboletas. Faça um conteúdo bacana que naturalmente o reconhecimento virá. Capa Eliana Cada domingo é um domingo diferente. A concorrência é muito forte e eu respeito muito os concorrentes. O importante é nunca achar que o jogo está ganho, nunca se acomodar.
Quais as maiores dificuldades na disputa por espaço neste horário tão concorrido?
É manter os ideais e DNA profissional. É você não se seduzir pelos números, pela audiência. Nem tudo que dá audiência tem qualidade. A audiência que não é qualificada não me interessa. Nunca me interessou.Mas a emissora cobra essa qualidade?Eu me cobro. Sou uma pessoa muito rígida com meu trabalho, não pauto meu programa pela audiência e sim por aquilo em que acredito, senão vira qualquer coisa. O dia que eu tiver que fazer qualquer tipo de apelação, baixaria, eu prefiro sair da TV. Meu histórico é de programas educativos, para crianças e para a família. O que me tiraria da televisão? Sofrer qualquer tipo de pressão para fazer algo que eu não acredito. Quero credibilidade. Trabalho numa televisão comercial e, lá, eles trabalham com números. Eles fazem o negócio e eu faço a arte.Como você lida com a fama?
Eu não lido com ela. Faço tudo que qualquer outra pessoa faria. Eu gosto de viver a minha vida como uma mulher normal da minha idade e não gosto de falar sobre o pessoal para não me tornar refém de julgamentos populares, de pessoas que mal me conhecem. Sem dar essa abertura isso já acontece, então não dou abertura mesmo. Eu não entro no rol das celebridades. Sou uma profissional da televisão.


De onde surgiu a ideia de fundar a Editora Master Books?
Mais uma vez um movimento íntimo e pessoal, de querer fazer mais. É um desejo de contribuir com a sociedade. Acho que cultura e livro nunca são demais. É uma editora de cultura porque tem títulos sobre música, arte de uma maneira geral. Agora comecei com fotografia, ainda este ano iremos lançar um livro sobre grafite muito interessante. Estou aberta para receber projetos e quero viabilizar e colaborar com estes artistas.Você já realizou todos os seus sonhos?
Não, claro que não. Eu sou uma eterna sonhadora. Sempre com o pé no chão, claro. Eu gostaria muito de ter um programa na TV fechada, que não se preocupe com nenhuma questão comercial, sem exigências – como acontece na TV comercial – com um ar mais cool. Eu amo viajar, então, quem sabe, levar o olhar feminino em viagens pelo Brasil e pelo mundo. Seria muito legal.Como você faz para o seu dia ter mais de 24 horas?
Dormir menos. Desde que eu estreei no SBT meus dias têm sido intensos. Quando não tem gravação fico no escritório e fora isso, outras coisas acontecem: comerciais, licenciamentos, jantares, reuniões, mas é muito gostoso. Não pesa, porque faço o que gosto. Vou levando. Sou sagitariana, agitada, criativa, por isso essa coisa de não ter rotina é até bom.Qual o momento mais marcante da sua carreira?
Vários. O primeiro ser convidada como apresentadora de TV aos 16 anos de idade por um ícone da televisão brasileira. Outro momento maravilhoso, aí como cantora, foi em 1999, quando recebi a indicação ao Grammy Latino, com o CD Primavera, em uma música do Barry White. Estar no tapete vermelho, com Jennifer Lopez, Christina Aguilera… puxa, foi incrível! Eu não ganhei, mas foi um momento muito marcante.
Você tem 15 cds gravados e mais de 3,5 milhões vendidos para crianças. Como está a sua carreira de cantora?
Adoro cantar. A minha ligação com a música ainda permanece no carnaval. Eu saio com o meu bloco rap, em Salvador, já há sete anos. A banda é de lá, suingue baiano, e seguimos por três horas e meio de percurso com o público família. Mas tenho vontade de voltar a cantar sim, existem músicas já quase prontas. Uma delas foi feita pelo pessoal do Cansei de ser sexy, um grupo brasileiro superconhecido principalmente lá fora.Quantos produtos licenciados em seu nome hoje?
Cheguei a licenciar mais de 160 itens. Tenho uma empresa que cuida só dessa área. Hoje temos cerca de 60 itens licenciados, mais voltados para o segmento feminino. Acabamos de lançar uma linha fashion de esmaltes que vai acompanhar todas as tendências mundiais. Tem também os produtos para unhas, limpeza de rosto. Na linha infantil, licencio cartonados para crianças, educativos, divertidos, com música, em parceria com a empresa americana Rasbro.O que você acha dos programas infantis atuais?
As crianças de hoje são completamente diferentes da época em que eu trabalhava com elas. Existe muito mais informação. A televisão hoje tem uma grande dificuldade em criar programas voltados para essa nova criança. Eu acho que ainda não existe nenhum formato de programa voltado para essa nova realidade.

Sair da versão mobile