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Brenda Valansi e o mercado de arte no Brasil

Quem melhor para bater um papo sobre arte do que Brenda Valansi, criadora e presidente da ArtRio, uma das mais importantes feiras do setor da América Latina. Apaixonada pelo que faz – e respirando arte 24 horas por dia – Brenda fala sobre o mercado de arte nacional e se o brasileiro está preparado para apreciar obras de arte.

Por: Cibele Carbone

Ela se formou em Veterinária e chegou a ir para Nova York fazer uma especialização na área, mas bastou respirar e viver um pouco da atmosfera da Big Apple, cheia de museus, exposições e espaços culturais, para decidir mudar de rumo: começou a estudar e a frequentar oficinas de arte lá mesmo e, quando voltou ao Brasil, ingressou na Escola de Artes Visuais do Parque Lage e no curso de História da Arte na PUC. Virou artista plástica, expôs seu trabalho em inúmeras ocasiões. Audaciosa, sabia que pode-ria ir além e tomou a iniciativa de criar a ArtRio – hoje uma das mais importantes feiras de arte do calendário mundial. “Sempre me perguntei como o Rio de Janeiro, uma cidade reconhecida mundialmente como polo cultural e criativo, não tinha uma feira de arte. Começamos a fazer o planejamento da ArtRio, que foi apresentado ao mercado de arte inicialmente em 2010. Em 2011, tivemos a primeira edição da feira, com a participação de mais de 80 galerias”, relembra.

Foram muitos os desafios que precisou encarar para que o projeto desse certo, como conquistar a confiança de galeristas e artistas e mostrar que sua equipe era capaz de montar um evento desse porte. “O mais importante que fizemos foi, desde o início, ter uma equipe competente. Eu entendo do segmento de arte e me associei a profissionais reconhecidos nos campos de marketing e patrocínio, duas áreas de suma importância numa produção como esta. Eu foco no conteúdo, relacionamento com galerias, colecionadores e curadores, e o Luiz Calainho, também sócio da ArtRio, se dedica ao marketing e relacionamento com patrocinadores.”

A Art Rio não só deu certo, como – já na sua sétima edição –, atrai os olhares do mundo, já que conta com participações de fora do Rio de Janeiro também, como as renomadas galerias paulistanas Carbono, Vermelho, Zipper e Nara Roesler. Na entrevista exclusiva a seguir, Brenda Valansi fala mais sobre esse mundo que a move.

GW: Você já foi artista plástica e expôs seu trabalho diversas vezes. Abandonou a veia artística?
BV: A veia artística sempre pulsa… Mas quando demos início ao projeto da ArtRio, entendi na hora que essa era minha prioridade e hoje me dedico 100% à Bex, empresa controladora da ArtRio, e à IDA – Feira de Design do Rio. Esse contato com a arte o ano inteiro é meu oxigênio. Mas posso voltar a criar um dia, nunca se sabe.

GW: Os brasileiros estão preparados para consumir arte?
BV: O mercado brasileiro está crescendo e um de nossos papéis é estimular esse crescimento com o surgimento de um novo público para a arte. Também trabalhamos muito para que seja um mercado ético, que conheça seus de-veres e responsabilidades, e que esteja em sintonia com as melhores práticas globais.

GW: E como é esse público novo?
BV: Um ponto interessante é que, seguindo um perfil tipicamente brasileiro, o jovem não tem receio de fazer mil perguntas, questionar os valores. Ele não compra por impulso, mas busca algo que gosta e que possa valorizar. É uma aquisição consciente. Esse é um ponto muito importante – ele começa a estudar arte, a se interessar, dar valor e, com certeza, no futuro vai querer aumentar sua coleção.

GW: O mercado de arte no Brasil ainda pode crescer muito. O que deveria ser feito para que isso aconteça?
BV: Nesse quesito, temos duas vertentes: uma é incentivar as pessoas a conhecer, estudar arte, visitar museus e galerias, frequentar ateliês. A ArtRio, mais do que uma feira, é uma plataforma de arte com ações ao longo de todo o ano, estimulando o segmento no país. Por outro lado, existe uma questão ligada à burocracia e aos altos impostos praticados no Brasil – esses impostos chegam a ser, em alguns casos, nove vezes superiores aos de outros países. A ArtRio conquistou um grande feito no país desde sua primeira edição, que é a isenção de ICMS para as obras estrangeiras adquiridas por residentes do Rio de Janeiro dentro da feira. Porém, esse tipo de ação deve-ria acontecer o ano inteiro e abranger todo o país. Entre nossas metas, está discutir com o poder público a revisão da política de impostos sobre obras de arte no Brasil.

GW: Na sua opinião, ainda existe algum estilo de arte para surgir ou todas as manifestações já foram criadas?
BV: A arte é sempre uma manifestação em constante mutação e acredito que, com a chegada de novas tecnologias, iremos ver novas possibilidades. Importante reforçar que nesse cenário a arte sonora e a arte digital, junto com a videoarte, estão conquistando cada vez mais espaço.

GW: Como se determina o valor de uma obra?
BV: Esses valores são muito relativos e, em geral, ditados pelo mercado. Existem múltiplas variáveis e não há uma linha única para isso. Tem a ver com a carreira do artista, obras produzidas, exposições já realizadas, técnica e que coleções ou instituições possuam obras desse artista. Não é uma ciência exata.

GW: Qual a melhor maneira para se comprar uma obra: leilão, feira ou na galeria?
BV: Na feira, pois reúne obras pré-selecionadas por um comitê. É onde está reunido o que há de melhor no mercado.

GW: Arte é um grande investimento. A crise econômica atual afetou essa área também?
BV: Como todos os segmentos, seria ilusão dizer que a crise não chegou. Porém, muitas pessoas já entenderam que a arte é também um importante ativo, que sempre irá valorizar. As pessoas podem estar mudando a frequência ou os valores, mas o mercado continua em movimento.

GW: Como se viu recentemente no rastro dos últimos escândalos, muitos empresários “lavam dinheiro” comprando obras de arte. Existe alguma maneira para se coibir essa prática?
BV: Esse é um cenário muito questionável hoje em dia. Sabemos de muitos casos de pessoas que dizem que tinham obras de alto valor, mas que, na verdade, eram obras falsas, já que buscaram mercados não oficiais e não sabiam como analisar e checar a procedência e documentação. As galerias brasileiras estabelecidas realizam um trabalho muito sério, de extrema confiança. Enquanto o comprador analisa a obra de arte, ele também é analisado. O Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) hoje já está pondo em prática eficientes ações para identificar e catalogar todas as compras relevantes do segmento.

GW: Quais artistas brasileiros que mais se destacam atualmente e quais possuem as obras mais caras?
BV: Prefiro não pensar em valores, mas focar na qualidade. Temos grandes nomes, como Cinthia Marcelle, Ernesto Neto, Waltércio Caldas, Adriana Varejão, Carlos Vergara, José Bechara, Carla Chaim, Cristina Canale, e muitos outros.

GW: E para finalizar: o que é arte para você?
BV: A arte é a força de expressão mais forte do nosso tempo.

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