Você piscou e a internet se encheu de bonecos colecionáveis com uma estética diferente, morangos cobertos com caramelo, livros de colorir e interações com inteligência artificial que respondem a perguntas existenciais com uma única palavra. À primeira vista, esses movimentos parecem isolados, mas observados juntos revelam como as tendências de 2025 estão organizando desejo, consumo e afeto sob uma mesma lógica: traduzir emoções em linguagem acessível, simbólica e compartilhável.
O que viraliza hoje não é apenas o que chama atenção, mas o que oferece um alívio. Um sentido breve ou uma forma possível de pertencimento. Em uma cultura marcada pela sobrecarga, pela ansiedade e pela expectativa constante de produtividade emocional, essas tendências cumprem o papel de pausas simbólicas. Esse esgotamento aparece descrito de forma contundente pelo filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, que analisa a exaustão contemporânea como produto da autoexploração. Segundo ele, não vivemos mais sob o regime da repressão, mas da positividade. A liberdade de criar, produzir e se superar constantemente se converte em cobrança interna e em colapso psíquico. Não há mais um inimigo externo, apenas a própria performance. E o burnout, nesse cenário, deixa de ser exceção e se torna norma.
É dentro desse cenário que o Labubu, personagem da Pop Mart, deixou de ser apenas um boneco e se tornou marcador emocional e estético. Com mais de US$ 400 milhões em receita em 2025 e exemplares revendidos por até US$ 170 mil, o colecionável virou símbolo de pertencimento visual. A hashtag #Labubu ultrapassa 1,1 bilhão de visualizações no TikTok, com vídeos de unboxing, vitrines temáticas e muitos reviews. E ainda assim, o que sustenta o fenômeno não é o valor de mercado, mas o valor simbólico. O boneco funciona como totem: expressa gosto, diferença, delicadeza e um tipo de sensibilidade específica.
O mesmo padrão se aplica ao morango do amor, uma releitura da maçã do amor com morangos frescos e calda de caramelo, que viralizou no Brasil. Os vídeos com a receita acumulam milhões de visualizações e aparecem tanto em perfis de confeiteiras profissionais quanto de vendedoras iniciantes. A estética é vibrante, a execução é simples e o impacto visual é imediato. Mas o que explica a adesão massiva não é a beleza do doce, é a possibilidade de transformar aquilo em fonte de renda, gesto de cuidado, memória afetiva ou tudo isso ao mesmo tempo. Criadoras relataram aumento de vendas, quitação de dívidas e acolhimento emocional por meio do conteúdo. A viralização não é só estética, é também sobrevivência.
Na outra ponta do espectro, a Bobbie Goods virou ícone silencioso de uma estética emocional voltada ao descanso. A marca americana de livros de colorir, criada por Bobbie Lee, não traz frases motivacionais nem promessas de transformação, apenas desenhos delicados com personagens suaves. Mesmo assim, ou justamente por isso, seus produtos aparecem em vídeos de autocuidado e momentos de foco. O conteúdo não está no livro, mas no gesto. Pintar uma página da Bobbie Goods comunica pausa, intenção e cuidado performado. E da mesma forma que no caso do Labubu, o acesso não depende do original, o pertencimento é simbólico.
Boa parte dessas tendências se espalha justamente por serem acessíveis e o conteúdo viral age como senha de entrada em um circuito de linguagem partilhada. No fim das contas, o que está em jogo não é o objeto em si, mas o que ele permite dizer sobre quem você é, o que você sente e com quem você se conecta.
Na Alma, somos especialistas em criar histórias, decifrar símbolos e entender o papel que as marcas ocupam em conversas culturais. Sabemos quando vale a pena entrar em um assunto, quando é melhor escutar e como transformar movimentos sociais e estéticos em estratégia. Porque comunicar bem, hoje, é mais do que seguir tendências, é saber traduzir sentidos.
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ILUSTRAÇÕES: Agência Alma
*Esse texto, em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões a partir da interpretação de fatos e dados coletados, é de responsabilidade integral do mesmo. O artigo não reflete, necessariamente, a opinião da GoWhere.