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Roberto Justus é o novo player do mercado financeiro

 Aos 65 anos, Roberto Justus é um exemplo real do que é ser um empreendedor. Aos 26 anos, ele abriu sua primeira empresa, a agência de publicidade Fischer e Justus. Depois de 17 anos fundou o grupo Grupo Newcomm, que o levou a conquistar o status de um dos maiores nomes do segmento no Brasil. Mas ele queria mais e algo diferente. Então, encarou as câmeras de TV para apresentar, entre outros programas, os realities shows A Fazenda e O Aprendiz. Na vida pessoal, Justus também, digamos, “se reinventou” algumas vezes. Passou por cinco casamentos e teve cinco filhos, inclusive, a mais nova acaba de nascer. Porém, mesmo tendo conquistado um patrimônio robusto, ele nem sequer pensa em se aposentar. Justus decidiu que era hora de empreender de novo, pular para o outro lado do balcão e se tornar um player do mercado financeiro.

“Eu quero montar um grupo financeiro para ser relevante. Dinheiro para mim é um produto. E fazer este produto é uma tarefa que precisa ser muito bem administrada”


Você começou cedo sua trajetória de empresário. Podemos dizer que é um empreendedor nato?

Comecei aos 26 anos, em 1981, com uma agência de publicidade, a Fischer e Justus. Durou até 1998, quando fundei o grupo Newcomm. Depois houve uma associação e viramos Young & Rubicam. Fiquei 36 anos na propaganda. Na verdade 34, porque eu vendi todas as minhas participações em 2015, porém, a pedido dos meus sócios americanos, fiquei mais dois anos em fade out. Ou seja, saindo devagar para colocar as pessoas no meu lugar e para que os clientes e o mercado não sentissem tanto. Eles queriam que eu ficasse até 2020, mas não quis. E me salvei da pior fase da propaganda.


Em 2017, aos 62 anos, você empreendeu mais uma vez, mas mudou seu foco para o mercado financeiro. Como foi essa guinada?

Eu sempre tive paixão pelo mercado financeiro, por isso resolvi montar uma Asset, de fundos de investimentos, uma Private equity, onde aconselho investidores a aportar seu capital em empresas com o intuito de lucrar com a futura venda da sua participação – essa vai ser a jogada da vez do Brasil – e estou montando uma Wealth management, para administração de grandes patrimônios.


Ainda mais com essa pandemia que descapitalizou empresas que têm potencial de crescimento…

Exatamente. Com a queda da Selic e aplicando a inflação, o juro real está negativo. Não achei que ia viver para ver esse momento no Brasil! Isso eleva a cotação do dólar, mas permite aos investidores voltar para o mercado real. Chegamos a ter uma CDI de 25%. Agora não dá mais para aplicar nem colocar na poupança, que virou um péssimo negócio. Esse dinheiro Esse dinheiro deve vir para a renda variável, que deve se transformar no melhor investimento. Então o private equity é fantástico porque o investidor está se associando às empresas e vai ter uma saída em quatro, cinco anos, com muito mais rentabilidade que se aplicasse seu capital. Graças à minha credibilidade como empresário e líder e também das minhas posições e ideias mostradas no programa O Aprendiz, hoje estou usando isso para atuar no mercado financeiro. Não adianta ter só “know-how”, precisa ter também “know-who”, ou seja, precisa saber e conhecer as pessoas certas. Mercado financeiro é credibilidade e performance.


Como é administrar três empresas ao mesmo tempo?

Eu não trabalho mais full time como antes. Agora, aos 65 anos, me dou ao direito de ter mais tempo para minha vida pessoal. Participo dos conselhos, das decisões estratégicas e me cerco dos melhores profissionais que tocam o dia a dia. O segredo é ter os melhores sócios e montar o melhor time que puder.


Essa sua nova empresa de wealth management, para administração de grandes patrimônios, fecha o círculo como empreendedor?

Exatamente. Ela vai chamar Legend, dividida em investimentos de agentes autônomos XP e Wealth Management, que cuidará de grandes clientes. Essa notícia é em primeira mão para os leitores da Go Where!


Olha, que honra! O que me espanta é essa sua garra de ainda querer empreender. Você poderia estar curtindo a vida…

Sem dúvida! Mas eu tenho aquela vontade de acordar de manhã e me sentir motivado, vivo, querendo realizar, fazer frente a essa crise danada. Se eu não tiver isso, o que me resta na vida? A motivação é tudo. Eu me motivo em montar bons times e motivá-los para realizar negócios e atingir resultados. E depois curtir a vida. Eu tenho um patrimônio consolidado, mas não é isso que interessa. Minha motivação agora é ser relevante no mercado financeiro. Tem muita fera nesse mercado e eu sou um outsider. Estou me aprofundando o máximo possível e me cercando de gente competente. Eu tenho uma boa experiência empresarial que eles não têm e eles têm uma boa experiência do mercado financeiro que eu não tenho. A gente junta tudo isso e faz acontecer.


Por que o mercado financeiro, e não uma fábrica?

Não vejo tanta diferença. Se juntarmos todas as empresas, nós vamos dar emprego para mais de 200 pessoas. É um negócio diferente, mas é um negócio! Eu sempre vendi o intangível chamado ideia. Agora vou fazer o mesmo, vendendo serviços financeiros. Se eu tivesse lá atrás escolhido o mercado financeiro, quem sabe eu não seria líder como os Setúbal, por exemplo? Eu quero montar um grupo financeiro para ser relevante. Dinheiro para mim é um produto. E fazer este produto é uma tarefa que precisa ser muito bem administrada.


Você se interessa por negócios no ambiente digital?

Sim! Eu me associei ao meu filho Ricardo que montou a Árvore, uma empresa de realidade virtual que tenho certeza que vai se tornar um unicórnio no futuro. Ela tem sede nos EUA e filial aqui. É uma área inovadora e promissora. A empresa já tem contratos internacionais com a Sony, por exemplo, e produziu um curta-metragem em realidade virtual, The Line, que mostra a São Paulo dos anos 40, narrado pelo Rodrigo Santoro, que é excepcional. Foi vencedor da categoria de realidade virtual do Festival Internacional de Cinema de Veneza no ano passado. Tem também jogos, como o Pixel Ripped, o jogo mais vendido do momento. Eles criam no Brasil – a criatividade do brasileiro é incrível – e distribuem no mundo todo. Os americanos estão encantados. Acho que tenho mais chances de ganhar dinheiro nessa empresa do que no mercado financeiro! (Risos)


E já que estamos falando em ganhar dinheiro, qual sua dica para o empresariado nacional sair dessa pandemia, recuperar o fôlego e voltar a faturar?

Primeiro, preciso voltar um pouco. Enfatizar o erro que a humanidade cometeu ao exagerar na reação a essa pandemia. É lógico que a gente tinha que educar as pessoas, obrigá-las a usar máscara, álcool em gel, fazer o distanciamento de segurança, proibir as aglomerações e eventos públicos e promover o isolamento vertical. Ou seja, isolar os grupos de risco com inteligência e efi ciência. Mas exageraram, não buscaram uma alternativa menos traumática. Mesmo que haja no Brasil provavelmente mais de 10 milhões de infectados, o índice de mortes por milhão é um dos mais baixos do mundo. O remédio não pode ser mais forte que a doença. O cataclisma econômico pode gerar mais mortes do que o próprio vírus.


Como enxerga o desemprego provocado pela pandemia?

Dessa massa que perdeu o emprego, muitos não vão conseguir se recolocar. O mercado vai aproveitar para dar uma depurada. As empresas vão recontratar, mas sem tanta gordura. Só os bons vão sobreviver. Eu tenho muita pena dos prestadores de serviço e donos de pequenos negócios. Eles não têm capital para sobreviver e voltar. É terrível o que está acontecendo. O vírus do medo espalhado pela mídia também não ajuda. Não tem jeito: a saída é começar do zero. O mercado não vai morrer, as empresas vão voltar a produzir, as pessoas vão voltar a consumir. Quem mais vai sofrer é a população mais carente.


É hora do empresário pedir um empréstimo?

O cenário dos juros baixo é um grande estímulo à economia. Você tem acesso a um capital que está sobrando. As empresas que precisam de capital de giro podem se endividar porque os juros estão baixos. Tem estímulos governamentais, com linhas de créditos para pequenas empresas. Tem caminho para sair. A volta vai ser um pouco mais devagar, mas vai acontecer. O que ocorre é que temos, ao mesmo tempo no Brasil, um problema político institucional. Temos excelentes ministros e projetos de reformas importantes que precisam caminhar.


Você acha que 2021 vai ser um ano de grande retomada?

Claro! Muitos papéis da bolsa, por exemplo, já voltaram aos valores de antes da pandemia.  Isso é um sinal de otimismo do mercado. Tudo vai voltar. O Warren Buffett – que é o maior investidor da história da humanidade – disse certa vez: “As crises são o momento em que os impacientes passam a receita para os pacientes”, ou seja, quem segurar vai voltar e quem se desesperar, vender tudo, não vai conseguir voltar porque tudo vai ficar mais caro. Mantive todos os meus investimentos e até investi mais.


E o mercado de luxo?

O mercado de luxo sofreu também. Esses consumidores não estão comprando carros, barcos, etc. não porque não têm recursos, mas porque estão esperando para ver o que vai acontecer. Quando voltar aos eixos, esse mercado vai retornar rapidamente. Mas vai voltar diferente. As pessoas ficaram em casa nessa pandemia e muitas começaram a questionar seus hábitos de consumo. Será que eu preciso de mais um relógio, outro blazer?


Qual seria um bom negócio para o pós-pandemia?

Tirando a área de tecnologia, que segura tudo… Veja o exemplo da Amazon, Google, Apple, Microsoft… Essas empresas valem 10 trilhões de dólares! Só a Apple vale 1,4 trilhão, ou seja, o mesmo que o nosso PIB! Uma empresa americana vale mais do  que o Brasil produz em um ano! É surreal! Mas as oportunidades estão aí, em vários segmentos. Por isso eu acho que o private equity vai ser a bola da vez porque é muito mais legal você entrar de sócio em uma empresa porque você se sente dono do negócio e tem retornos atraentes.


Acha que o consumidor vai voltar diferente depois dessa pandemia?

O consumidor está doido para comprar. Nós temos uma demanda reprimida enorme. Minha esposa é uma influenciadora digital de peso. Ela tem uma cliente que criou uma linha de roupas “stay home” que vendeu barbaridade. Enquanto uns lamentam, outros buscam alternativas na crise. As pessoas vão se reinventando de acordo com as oportunidades de mercado. É assim que funciona.


Você está dando seus primeiros passos no mercado financeiro. Quais seus objetivos, suas metas?

Crise é oportunidade. Grande parte dos investidores hoje não está satisfeita com o que aconteceu com o seu patrimônio. Perderam dinheiro, perderam a atenção daqueles que cuidam dele, dos bancos… Então é a hora da gente mostrar nossa estrutura, nosso time e falar: “Olha como podemos cuidar do seu dinheiro…” A crise pode ser boa para nós. É um momento em que tudo pode mudar. Olhe para o copo meio cheio e veja sempre o lado bom. Não fique se lamentando. Está cheio de oportunidades por aí.

“Não tem como uma metrópole e um estado como São Paulo sobreviverem sem investimentos estrangeiros. Eu sou da opinião de que devemos privatizar tudo”


Muitos empresários foram morar fora ou desistiram de investir por aqui. Qual é a sua visão disso?

Fui eleitor do Bolsonaro. A gente precisava de uma pessoa corajosa para enfrentar o establishment totalmente contaminado pela esquerda. Ele fez o favor de tirar o PT do poder. O PT era uma erva daninha que se continuasse não ia sobrar nada do Brasil. Ao mesmo tempo eu não gosto do radicalismo de direita. O meio termo é tudo na vida. Mas o presidente está perdendo a grande chance de fazer história porque está entrando num clima desnecessário. Ele tem de ser um grande conciliador. Não pode bater de frente com a imprensa, com as instituições. Ele tem que negociar sua posição sem se entregar. Dizer não à corrupção e não lotear, apesar de ele já estar cedendo… A postura radical dele gera também uma inquietação no mundo, pois é um presidente que não se comporta do jeito que deveria. Como eleitor dele sinto muito porque torci bastante por ele. Ele tem boa índole, boa vontade, mas não tem o preparo para o cargo. Estou torcendo para que isso mude. Os ministros são maravilhosos. Tenho uma admiração pessoal e profissional pelo Paulo Guedes. A equipe econômica inteira é muito boa. O presidente os deixa trabalhar, o que é muito bom. Temos um Congresso que está tentando, mas infelizmente não está entregando. Tem muita coisa parada lá. Tem muita influência política. A gente precisava ter mais Brasil e menos Brasília. O reflexo disso é que a imagem do Brasil lá fora é muito ruim.


E sua opinião sobre São Paulo?

Não concordo com o que dizem que o Dória está entregando tudo para os chineses. Bobagem! Quanto mais eles investirem aqui, melhor para nós! Não tem como uma metrópole e um estado como São Paulo sobreviverem sem investimentos estrangeiros. Eu sou da opinião de que devemos privatizar tudo. Tirar o governo de empresas como Petrobras, Banco do Brasil… Isso precisa acontecer uma hora porque são antros de corrupção e ineficiência.


Então você ainda considera o Brasil um bom negócio?

Claro! Eu não estaria investindo em abrir três empresas aqui se não achasse isso. O Brasil sempre foi muito hostil ao empreendedorismo, com uma carga de impostos que é a maior do mundo. Mas se este governo conseguir fazer o que se propôs, as reformas, privatizar… será um avanço incrível. Mas aqui é tudo muito difícil. O Brasil é moroso, cheio de regras, de burocracias, tem interesse para todo lado.


Como é o seu jeito de administrar?

Tem líderes que administram por pressão. Eu nunca fui assim. Gosto de deixar as pessoas felizes e motivadas para entregar o melhor delas para mim. Sou a favor da meritocracia. Todos meus funcionários ganham bem. Se ele for bom, ele não quer sair, e se for ruim ele sai. O próprio sistema expele os médios e os fracos. Assim que funciona uma empresa bem administrada. O Brasil não tem condição de funcionar assim por diversos motivos. Mas tem um parque industrial maravilhoso, um agronegócio que é o alimento do mundo, riquezas, biodiversidade, um povo de boa índole, trabalhador, criativo… Hoje não tem mais inflação, o juro está negativo… Olha o cenário que se desenha! O presidente ainda tem a oportunidade de ouro para fazer isso virar. Parar com esses embates com os demais poderes. Quando os elefantes brigam quem sofre é a grama!


E O Aprendiz? Você vai voltar à televisão?

Eu fiz no ano passado O Aprendiz na Band com influenciadores digitais. Foi legal, deu uma repercussão muito grande. Hoje em dia falar em audiência é falar em engajamento. O programa teve milhares de visualizações nas mídias digitais. A gente quer fazer uma coisa diferente esse ano. Será mais arriscado, com envolvimento muito maior do público. A ideia é voltar à origem. Em vez de famosos, vamos selecionar pessoas comuns, 16 candidatos que vão concorrer a um milhão de reais e um emprego com salário de dez mil reais por mês durante um ano em uma das minhas empresas. Mais eu não posso falar… Até nisso eu estou me reinventando.


Por Leonardo Millen

Fotos: Daniel Cancini

 

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