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O céu não é o limite

O homem das fotos é um baiano de 64 anos que ficou bilionário achando minérios. Mas João Carlos Cavalcanti, o JC, não é um homem de ferro. Cheio de paixões e afetos – que incluem carros e animais abandonados – ele acorda às 3 da manhã para se sintonizar com a natureza que lhe deu rumo e fortuna

Por Celso Arnaldo Araujo Foto Victor Almeida

Ao contrário de boa parte dos outros 73 brasileiros – pessoas ou famílias– com patrimônio superior a 1 bilhão de reais listados recentemente pela revista Forbes Brasil, o geólogo baiano João Carlos Cavalcanti, número 44 da relação, não se esconde. “Tudo o que ganhei foi fruto de trabalho e declarado”. Também diferentemente da média dos empresários nessa faixa de fortuna, tem um horizonte de vida muito mais amplo – atribui a localização das jazidas de minério que o tornaram rico a uma “consciência cósmica” e à sua “conexão com Deus”. Não é, em absoluto, um devoto religioso – mas um místico. Só anda de preto e considera os animais seres diretamente ligados ao divino – com a mulher, Renilce, mantém em Salvador um admirável abrigo para cães e gatos abandonados ou maltratados. Ao nível material, tem paixão por carrões antigos e trilhas sonoras dos anos 60. Mas o Cosmos não é seu limite. Ele quer mais.

Pela primeira vez você entra na lista da Forbes, como a quinta fortuna do nordeste e a 44ª do Brasil. Que tal?

Bem, eu chamo sua atenção para o seguinte detalhe: os quatro patrimônios nordestinos que estão à minha frente, como o dos Odebrecht e o dos Gradin, são de famílias grandes. No meu caso, somos eu, dona Renilce e dois filhos. Se você olhar individualmente, eu seria o sujeito mais rico do nordeste.

E você não tem receio de espalhar isso?

Aprendi: galinha quando bota ovo tem de fazer cocoricó. A gente veio para brilhar, não para ficar enterrado e escondido. Muita gente mais rica do que eu não declara – porque não declara, se é que você me entende. Eu não tenho o que esconder. Nunca trabalhei para o governo.

Você não deve ter nascido em berço de ouro, nem de minério de ferro…

Sou de família de classe média baixa. Meu pai, que nasceu em Pernambuco, veio para a Bahia para a construção da antiga Ferrovia Leste Brasileira nos anos 40 e conheceu minha mãe na cidade de Caculé, sertão da Bahia, fronteira com Minas. Casaram-se em 44, em 48 eu nasci.

Desde que se deu por gente, você já queria ser alguém na vida?

Já. Eu brincava no fundo de quintal com meus primos, debaixo de mangueiras e goiabeiras, na casa de minha avó, e enquanto os meninos diziam que queriam ser bombeiros ou motoristas de ônibus, eu dizia que queria ser um milionário. Eu gostava de tudo o que era belo e bonito. Nas matinés do Cine Teatro Engenheiro Dória, eu adorava assistir aqueles filmes com o Rock Hudson e a Doris Day para apreciar as mansões de Beverly Hills, os Cadillac e os Bel Air.

Dando um salto de alguns anos: a descoberta das reservas de Caitité, no oeste da Bahia, foram o ponto de partida de sua fortuna?

Depois de Caetité já encontrei minas maiores, mas essa foi um divisor de águas na minha vida. Eu já era um homem rico antes de Caitité. Ganhei meu primeiro milhão de dólares com 27 para 28 anos, vendendo uma jazida para um grupo de mineração. Em 1986, tomei a decisão de deixar de ser empregado quando ouvi de um economista amigo: “Se eu tivesse o seu conhecimento, eu seria bilionário. Por que você fica aí descobrindo reservas para essas empresas e não vai procurar pra você mesmo”? Foi aí que parti para o voo-solo. Peguei uma perua 4X4, um motorista, convidei alguns colegas para me acompanhar. Não tinha hora: era sábado, domingo, feriado, Carnaval, eu de mapa geológico na mão estudando in loco os ambientes geológicos mais favoráveis. Logo fiz as primeiras descobertas, mas o grande salto, efetivamente, foi Caetité, um depósito enigmático que abalou a mineração. Estava na cara da Vale do Rio do Doce e da estatal do governo da Bahia, que tinham 60 geólogos na região. Caetité é hoje a terceira maior reserva de minério de ferro do País – depois de Carajás e do Quadrilátero Ferrífero de Minas. Tem um potencial de recursos de 4 bilhões de toneladas. Com Caetité, passei da condição de bem de vida para muito bem de vida.

Há algum inconveniente em ser bilionário?

Só uma vez. Em 2009, pela primeira vez, o jornal O Estado de S. Paulo me apresentou como bilionário. Meu filho Rodrigo, que estava em Itacaré tocando uns negócios, me ligou no dia seguinte, aflito: “Pai, vou ter de ir embora daqui. Eu passo na rua e todo mundo grita: olha o filho do bilionário”. Fiquei preocupado com ele e, à noite, peguei meu jato aqui em São Paulo, pus dois seguranças a meu lado e me dirigi a Itacaré. Cheguei à meia noite, chamei o Rodrigo e disse pra ele: “Meu filho, deixa eu te fazer uma pergunta. E se alguém dissesse na rua “aí vai o filho do lascado”? O que você prefere ouvir? Se aquieta. Eu sou um gladiador moderno. Os bilionários que chegam lá têm o direito de escolher seu prêmio. Estamos relacionados entre os 74 bilionários do País. Se você pegar a população brasileira e dividir, nós somos 0,0001%. No mundo todo, não há mais de 200 bilionários. Fazer parte dessa elite econômico-social já é uma grande vitoria. Por isso que um cara como eu, filho de operário ferroviário, vai fazer um livro com o nome de O poder da inteligência espiritual.

O que vem a ser esse poder?

Essa minha capacidade de gerar recursos, prosperidade e progresso está muito focada na minha intuição de enxergar na frente dos outros. Sou uma pessoa extremamente mística. Tudo o que eu tenho vem de minha conexão com Deus. A origem de todos os problemas da vida de qualquer ser humano é a desconexão com a luz, com a consciência cósmica, a consciência divina – seja Alá, Oxalá, Buda. Sempre busquei essa conexão. Quando você se desconecta, vem os problemas financeiros, de saúde, familiares. 

Mas, de novo, se expor não pode ser perigoso no Brasil de hoje?

Não porque me sinto vitorioso e confortável. Não tenho o que esconder, todas as minhas contas estão declaradas, tudo o que eu angariei foi fruto de trabalho. Nunca fiz uma obra para o governo. Foi tudo focado na iniciativa privada, começando como consultor, depois como empreendedor na área de mineração. Não tenho vergonha. Como meu ex-sócio Eike também não tem. Talvez seja uma característica do signo de Escorpião. O Bill Gates é. Muita gente não se expõe porque tem rabo de palha. 

Você, a exemplo do Elke, gostaria de ser o homem rico do mundo?

Antes de responder isso, eu queria dizer uma coisa. O que falta aos bilionários brasileiros, com exceção da família Ermírio de Moraes, que tem atividades filantrópicas impressionantes, é a capacidade de compartilhar. Na minha simplicidade, eu compartilho. Temos uma fundação para animais de rua abandonados, que abriga 2.500 cães e gatos e 47 famílias de colaboradores. A administração do patrimônio da família JC hoje emprega 275 funcionários. Não falo das minhas empresas, mas da família. Eu talvez seja a família que mais emprega neste país. Minhas casas, aqui em São Paulo e em Salvador, por exemplo, têm 17 funcionários cada uma. Tenho quatro pilotos. A minha meta não é ser o maior bilionário do mundo. Morrer rico é burrice.

Então o negócio é usufruir da fortuna em vida?

Mas eu usufruo muito pouco. Meu prazer são os carros antigos. Minha diversão é ir para a casa de campo (num condomínio fechado em Bragança Paulista) passear com meus carros antigos. Não é o vinho mais, a suíte presidencial do Plaza Athenée, meu jato, o que me dá mais prazer é sentar no meu Cadillac, no meu Buick, no meu Impala e sair devagar, ouvindo música dos anos dourados. Ou ficar no meu gabinete, em oração e meditação, olhando os carros da janela.

Já fez alguma extravagância?

Algumas. Já peguei o jato para tomar café da manhã em Punta del Este, almoçar em Santiago do Chile e dormir no deserto de Atacama. Mas você não me vê em loja. Em shopping. Nas viagens, passo boa parte do tempo na minha suíte, curtindo o conforto. Adoro bons restaurantes.

Qual é o caminho mais curto para ficar rico no Brasil?

O primeiro passo é fazer o que você gosta. Sente à noite, pegue papel e caneta, trace uma linha vertical e coloque na coluna da esquerda tudo o que você não gosta de fazer. Na direita, o que gosta. Na coluna da esquerda, se um dos itens for sua mulher, aja – se separe. Se for seu trabalho, mude de emprego. Não conheço ninguém que tenha ficado rico fazendo o que não gosta de fazer. O caminho da prosperidade passa pela felicidade pessoal. Segundo: pensar pequeno gasta a mesma energia de pensar grande. Terceiro: tudo o que você precisa para ficar rico já está à nossa disposição. À Terra não falta nada. Há recursos minerais em abundância. Para achar, basta encontrar sua confluência com o universo. No meu caso, os recursos minerais – prata, ouro, ferro – estão todos no sub-solo. Poucos geólogos no mundo sabem se conectar com a consciência cósmica para descobrir onde eles estão. Por isso fui considerado um dos maiores geólogos do mundo.

Onde você investe?

Para responder, vou ter que dar uma porrada nos bancos. Esta nova crise mundial é uma armação de um sistema financeiro terrível que está aí para empobrecer a classe média e tornar os ricos cada dia mais ricos. Eu estou ficando a cada dia mais rico. Recebi um relatório de meu banco na Suíça: o mundo tem 7 bilhões de habitantes, 1 bilhão de pessoas em estado de miséria absoluta que não sabe se chega amanhã. Mais 2 bilhões, apenas sobrevivendo – gente que acorda às 4 da manhã para trabalhar e lutar para fechar suas contas no final do mês. Há mais 2,9 bilhões remediados, batendo lata. Sobram 700 mil milionários.

Achar grandes reservas de minério, antes dos outros, é técnica ou intuição?

Essa capacidade de encontrar reservas, 99% é minha intuição, é minha ligação com o Cosmos. Eu me coloquei à disposição do grande criador do Universo. Se você se conecta com ele, você voa. Desde os 10 anos de idade, só durmo três horas por noite, acordo de madrugada, pego uma caneta, um papel e traço meus objetivos e projetos de vida. Entrego meu caminho ao grande Criador. Estou com um índice de acerto de 40% a 50%, contra 3% da média mundial dos geólogos. No meu caso, a intuição é achar minério onde grandes pesquisadores passaram batido, inclusive os da Vale. Isso eu não explico. Eu chego ao local de prospecção, me afasto da equipe toda – e meus geólogos respeitam isso – vou para debaixo de uma árvore, fico em silêncio total e em seguida peço autorização às entidades do local. Cachoeiras, rios, matas têm protetores. Peço a eles, com toda reverência, que me deem licença e iluminem meus caminhos, mostrando onde estão os depósitos minerais.

Quais são os minérios mais valiosos do Brasil hoje?

O que a humanidade mais consome hoje é minério de ferro. Para onde você olhar, você vai ver aço. Para do banheiro à cozinha, você só vai ver minério de ferro na sua frente, das torneiras à geladeira. O Brasil é responsável por 40% do minério de ferro consumido no mundo. Em segundo lugar, é alumínio. Temos grandes reservas. Terceiro: cobre e níquel. Mas o que sustenta nossa balança comercial é minério de ferro, soja e petróleo.

E o tal do neodímio, que você também achou no oeste da Bahia, em reserva estimada em 28 milhões de toneladas, qual é o valor dele?

O neodímio um dos 17 elementos que compõem o grupo de minerais chamado terras raras, usados em equipamentos de alta tecnologia, como carros elétricos, cataventos de energia eólica, placas de LED, smartphones e tablets. É a primeira descoberta de neodímio no Brasil similar ao maior depósito do mundo, que é Baotu, na China. O que descobrimos está dentro de um material chamado fluorita. O valor? Enquanto minério de ferro custa 100 dólares a tonelada, o neodímio custa hoje 300 mil a tonelada. É o ouro do século 21. O futuro da WMR é esse. Tenho hoje 14 sócios, com cotas no mercado. Não quero mais ser o (*) da baleia, mas a cabeça da sardinha. Uma das maiores empresas de exploração de jazidas do mundo. Agradeço tudo isso à minha conexão com o invisível. Acredite quem quiser.

Como é o Eike Batista como sócio?

Péssimo. Não cumpre o que acerta, não gosta de pagar. Nunca trabalhou, nunca abriu uma mina. O livro dele é uma farsa. O x da questão é que ele captou 500 milhões de dólares na BV, por IPO, sem ter nenhuma reserva de minério de ferro certificada, e agora que as ações caíram está recomprando. Vendeu ações para um bando de otários – a mim, ele chamou de tolinho. Em 2005 prometeu que seria um dos maiores produtores de minério de ferro do mundo em 2011. Estamos em 2012, e Eike não exportou um quilo de minério de ferro, porque não tem. No Canadá, arrecadou mais 500 milhões de dólares com um fundo de pensão das velhinhas. Chegou aqui, comprou blocos de mineração da Agência Nacional de Petróleo. Tirou os melhores geólogos da Petrobras. Ele gosta de dar apelidos às pessoas. Chamava o Paulo Mendonça de Mr. Oil. Prometeu entregar campos de petróleo com 250 mil barris/dia, até agora não chegou a 5 mil. Eu avisei várias vezes: Eike é bolha, Eike é virtual. Fuja dele. Estou com uma ação contra ele na Justiça do Rio, onde não tenho nenhuma chance, com o governador Cabral ao lado dele. Se o Brasil fosse um país sério, o Eike não estaria nesta posição. As empresas de Eike não faturam, não entregam. Sou filho de um operário ferroviário, ele é filho de um ex-ministro. O que eu prometo, entrego. Há oito grandes projetos de mineração neste país. Metade são meus. Qual é o projeto de Eike? Mercado de ação não enriquece ninguém. Só quem ganha com ação é banco e corretora de valores.

Aliás, você tem outra ação milionária contra uma corretora por causa de investimentos em ações que você não autorizou…

Fui roubado por um banco chamado Geração Futuro, aqui em São Paulo. Me lesou, falsificou documentos em meu nome. Uma quadrilha. Mudaram meu perfil de investimento, que é conservador, só fundo de renda fixa, não acredito em ações. Como ganham na corretagem, falsificaram minha assinatura para mudar. Não sou vítima, mas um sobrevivente determinado. Nunca se coloque como vítima quando alguém lhe der uma porrada. Não fique chorando. Corra atrás.

Leia essa e outras matérias na Go’Where Business n° 08

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