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Nelson Wilians: o comandante do maior escritório de advocacia do Brasil

FOTO: Divulgação

Se Nelson bota banca, ele pode: filho de roceiros do interior de Paraná, fez Direito por sua conta. Com menos de 30 anos, já independente financeiramente, decidiu se expandir. E, estudioso de História antiga, particularmente o imperador romano Julio Cesar, que também advogou por um período, decidiu conquistar o Brasil – não pelas armas, mas juridicamente, com um exército próprio de escritórios em todas as capitais. Hoje, vive à altura de um fenômeno corporativo – com uma frota de 23 carrões, um jato Legacy 650 da Embraer e um helicóptero Agusta, além de uma mega-adega com cerca de 4.600 garrafas de vinho, majoritariamente Romanée-Conti, Petrus e verticais de todos os Grand Cru franceses, para ocasiões especiais. Comemorar a vitória numa causa, por exemplo – o que ocorre todo dia. Ele tem todo o direito de defender esse lifestyle. E ele costuma dizer que vantagens ele conta em 15 minutos. Desvantagens, leva horas porque o mundo não é um mar de rosas, e precisamos de coragem, resiliência e planejamento para vencer na vida.

Em que momento surgiu em seu horizonte a ideia de comandar o maior escritório de advocacia do país?

Minha vida é uma constante evolução no decorrer do tempo. Foi acontecendo. Comecei minha carreira de uma maneira muito humilde, numa cidade do interior de São Paulo (Bauru) que abriga uma das mais tradicionais escolas de Direito do país, a Instituição Toledo de Ensino, o ITE, que concorre com as grandes faculdades da capital – e isso se avalia pela quantidade de ex-alunos aprovados em concursos públicos e nomeados para cargos públicos de grande gabarito. Para se ter uma ideia, o ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal, é meu colega de turma. O ex-presidente Michel Temer era professor de Direito Constitucional na escola.

Alguém lhe financiou o curso de Direito?

Não, meus pais são pobres “de marré marré” e semianalfabetos. Moram em Jaguapitã, norte do Paraná. Fui para Bauru e paguei a faculdade já com meu trabalho, primeiramente na Santa Casa de Jaú, como auxiliar de escritório e, nos fins de semana, como frentista de posto de gasolina. Uma vida de extrema necessidade. Itinerário Jaú-Bauru toda noite, de ônibus.

E a escolha do Direito tem a ver com o quê?

Com um personagem de história em quadrinhos, o Demolidor, o Homem sem Medo, das aventuras Marvel. Me apaixonei por Matthew Murdock, o irmão alter ego do Daredevil, que era advogado dele e de diversos heróis da Marvel. Eu me achava até parecido com ele na época. E decretei: vou ser advogado. Meu pai era contra que eu estudasse. Queria que eu trabalhasse. Me levava para a roça com ele aos 11, 12 anos, para capinar – e até hoje tenho horror à roça. Uma forma de eu fugir daquilo era estudar.

Ok, cinco anos depois, diploma na mão, inscrição na OAB…

Eu trabalhava de auxiliar de RH em Bauru, tiro 30 dias de férias e estudo o que não estudei na faculdade inteira, presto o exame da Ordem e…passei. Para começar minha vida profissional como advogado: eu tinha um colega de faculdade, médico, que fazia uma segunda graduação. Ele se tornou um amigo. Era médico do trabalho da Telesp e, depois de bater o ponto, usava uma sala numa clínica médica – e me ofereceu um espaço para começar a atender.

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Foi seu primeiro escritório…

E meu primeiro cliente foi uma pessoa da igreja onde eu congregava, a Primeira Igreja Batista de Bauru. Um parente foi a óbito, e a família me contratou para fazer o arrolamento – forma mais simples de inventário. Como honorário, ganhei minha primeira linha de telefone… Levei essa linha para o consultório médico e orientei a secretária – quando esse telefone tocasse, ela diria “Nelson Wilians advogado”. Fiquei cerca de um ano depois de formado, e com OAB, andando de ônibus. Irmãos da igreja indicando e sendo clientes.

Já tinha inclinação por algum ramo da advocacia?

Direito empresarial. Sempre tive fascínio, desde a faculdade. Trabalhei durante toda a faculdade com carteira assinada – e passaram pela minha vida alguns empreendedores. O primeiro, o dono do posto de gasolina familiar de Jaú onde trabalhei como frentista. Trabalhei também numa construtora com três sócios ativos. O empreendedorismo se tornou minha especialidade. Há um livro chamado “Schopenhauer e os anos mais selvagens da filosofia”, biografi a de Arthur Schopenhauer. Pois bem: escrevi na minha cabeça “Nelson Wilians e os anos mais selvagens da advocacia”. Por quê? Imagine um jovem numa cidade de 300 mil habitantes no interior de São Paulo, onde existe uma faculdade de alto prestígio na qual estudam os filhos dos advogados ali formados, bem como filhos de juízes, promotores, delegados da cidade – e nesse ambiente começo minha carreira. Por isso, quando alguém diz “a advocacia está saturada”, não sabe o que está falando. Começo em ambiente hostil, sem pai e sem mãe como apoio, sem história anterior nesse ramo, advogando sozinho, mas com um princípio fundamental: a advocacia exige responsabilidade de quem assume uma procuração. Não posso ser irresponsável com uma causa e com a pessoa por trás dela. Nunca fui vaidoso ou orgulhoso a ponto de não buscar ajuda quando eu não sabia. Minha mãe, uma pessoa iletrada, mas muito religiosa, me dizia: “Nelsinho, a mãe e o pai não têm nada para te dar em termos de bens materiais. Mas podemos orar para que Deus coloque pessoas na sua vida que possam te ajudar”.

Essa oração acabaria sendo ouvida por quase dois mil advogados associados… Quando começou a nascer o super escritório Nelson Wilians?

Em Bauru já comecei a me destacar. Não ficava parado no escritório, esperando cliente. Visitas eram vitais, sempre por indicação. Criei um networking – essencial para o sucesso na advocacia. Não há advogados sem causa e causas sem pessoas. Eu já era independente financeiramente quando me formei em Direito. Antes dos 30 anos eu estava trocando meu primeiro avião, um Baron, pelo segundo – um Cheyenne II.

Um avião para percorrer o país.

Sim. Mas antes disso, uma família coreana me entregou um bolo de cheques sem fundo para que eu fizesse a recuperação em várias cidades. Peguei meu carro e dirigi até o Rio, onde eu nunca tinha pisado. Na era pré-Waze, tive que consultar o mapa Quatro Rodas, pois eu não conhecia a cidade. Fui abordado numa comunidade por uma blitz policial – me fi zeram pôr as mãos em cima do carro e me revistaram inteiro. Feita a vistoria, sem encontrar nada que me incriminasse, o policial perguntou: “O que você está fazendo aqui?” Eu disse que estava lá para cobrar um cheque. E ele: “Você é muito louco. Tem noção de onde você entrou?”. Claro que não. Eu era um cara do interior. Resumindo: sempre fui uma pessoa hiperativa. Não sei ficar parado. Em 2010, abrimos a 27ª filial numa capital – Palmas, Tocantins.

Não tem hobbies?

Não. Mas advogado não trabalha em fim de semana. Nem em feriado. O segredo é saber dosar as coisas de maneira a ser polivalente nos dias de trabalho. Eu estou aqui dando entrevista e pensando nas soluções para os problemas que terei hoje. Para se definir um escritório de advocacia, pense numa pizza em que cada fatia é uma área de atuação. Para cada área/pedaço, deve haver um sócio responsável por um grupo de advogados: área civil, penal, trabalhista, empresarial, societária, regulatória, ambiental…

Alguma área em que você não tenha entrado?

Tem uma frase minha que ficou famosa: “Dai-nos um contrato que nós damos a execução”. Se não tivermos no escritório advogados com a capacidade necessária para abraçar uma causa, vamos ao mercado buscar esse profissional.

Não recusa causa?

Se você chegar aqui com uma causa de violência sexual, não será nosso perfil. Nosso core business é empresarial.

Você tem muitos famosos no seu portfólio de clientes?

Sim, muitos. Temos hoje cerca de 20 mil clientes ativos em todo o país. Chegamos a ter quase um milhão de processos.

Poderia citar, sem nomes, a causa mais cara em que seu escritório já atuou?

Já tivemos causas tributárias bilionárias em que advogamos para federações, confederações, sindicatos. Aliás, defendemos a associação de delegados da Polícia Federal no país inteiro desde 2012.

Evidentemente você não se envolve em todas as causas de seu escritório. Se eu quiser você, é mais caro?

Não necessariamente. Às vezes você pega determinada causa apenas pela repercussão, pela amizade, pela indicação. Aí acabo eu mesmo encampando essa causa.

Qual é sua agenda média diária?

Chego no escritório às 8 da manhã, um dos primeiros, e vou embora lá pelas 18h30.

Então você não é um workaholic ou, como diria a Dilma, um workalcholic?

Não. Só se for necessário.

Portanto, não trabalha tanto como seu cliente João Doria?

(Risos) Imagina. O João trabalha 22 horas por dia. Talvez por isso eu não seja tão rico quanto ele (risos). É preciso otimizar as coisas. Se você me perguntar qual é minha maior virtude, eu diria: maximizar virtudes e minimizar vícios, meus e de meus liderados.

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Um advogado com seu sucesso tem que ser necessariamente um escravo da lei?

Não, necessariamente. Um advogado é um solucionador de problemas e um mitigador de danos, quer seja de maneira consultiva ou contenciosa. Não há outro papel. Se o cliente me procurar com uma causa perdida, o que posso fazer? Reduzir o dano.

Consigo chegar até você sem você me conhecer?

Chegar a mim é simples. Em minhas redes sociais tenho centenas de milhares seguidores – e me comunico com todos no Instagram. Perguntou, respondo. Quando uma pessoa desconhecida me procura, faço uma pesquisa e indico um sócio do escritório para uma primeira triagem. Se for uma causa, aí será marcada uma reunião comigo. O primeiro juiz de uma causa é o advogado. É o que procuro ser.

Com tanta demanda, você consegue relaxar durante o dia, ler um jornal, um site de notícias…

Consigo. Leio todos os jornais de manhã, passo pelos principais sites de notícia. Eu me interesso até pelas coisas fúteis. Adoro fofoca, que une os homens – já dizia um filósofo.

Pegaria uma causa de injúria racial, cada vez mais comum nos dias de hoje?

Se for do lado do injuriado, sim. Minha esposa, aliás, é extremamente engajada em causas contra preconceito e discriminação. Eu mesmo sofri isso – não evidentemente pela cor, mas dentro da própria família. Ouvi palavras que me machucaram, a começar de meu pai e sua forma bruta de lidar com as coisas. Meu pai não pronunciava meu nome. Era “seu idiota”. Eu devia ter uns 15 anos, não lembro a bobagem que eu possa ter feito, meu pai olhou pra mim e disse: “Nelsinho, você nunca vai me decepcionar. Porque não espero nada de você”. Cresci nesse meio. Levar tanta pancada na adolescência para mim foi um combustível – me moveu para o sucesso. Meu primeiro carro, uma Fiat Panorama 147 velha toda batida e lascada, eu com 1,90m de altura. Voltei à minha cidade e ouvi: “Que coisa horrorosa”. Compro um carro melhor e me meteram o pau por pagar com carnê, em vez de investir numa casa. Palavras de desânimo e desmotivação foram uma constante.

Qual é sua frota hoje?

Dois Rolls-Royce, três Bentley, quatro BMW, três Caddilac Escalade. Vinte e três carros na minha frota pessoal – parte aqui, no office, parte em casa.

Quem escolhe o carro do dia?

O motorista. Dirijo muito pouco, praticamente só nos fins de semana.

Como nasceu essa paixão por carrões?

De quando eu não tinha nada. Além dos carros, minhas paixões são os aviões e as lanchas Riva, de madeira, que ficam na minha casa em Angra, aonde fui duas vezes no ano passado e onde fica também a lancha Azimut.

Você diria que é o mais bem-sucedido advogado brasileiro?

Eu diria, assim: em tamanho de estrutura, sim. Em potencial, sim. Mas, em termos de volume, é difícil confirmar. Tenho colegas muito discretos. Conheço um advogado envolvido na lide das Lojas Americanas, nomeado administrador da recuperação judicial da empresa. Com 5% da causa, os honorários passam de 1 bi. No ano passado, nossa meta era faturar 1 bi – chegamos perto. Mas este ano devemos passar de 1 bi.

Ainda se diz “banca de advogados”?

Eu gosto de chamar de “firma” (risos).

Traduza essa firma em números…

Chegamos a ter 1.750 advogados, entre sócios e associados. Mas nos últimos dois anos estamos num processo inverso – reduzindo o número de advogados associados e aumentando o ticket médio por causa e o número de não advogados – administradores, contadores, economistas. Hoje posso dizer que temos o maior grupo advocatício do país, com três mil profissionais – entre advogados, funcionários, sócios, associados e parceiros.

Com 51 anos, já realizado, você por certo não pensa em parar. Você pensa em parar? (risos)

Não. Quando vejo o Dr. Ives Gandra, o professor Michel Temer, na faixa dos 80, ainda na ativa, isso me motiva. A advocacia é instigante. Há uma frase famosa do Onassis quando lhe perguntaram o que o motivava, já bilionário: “Não é apenas pelo dinheiro, mas pelo game”. Ou seja: estar no jogo. Temos sócios, associados e clientes em todos os estados da Federação. Não há nenhuma comarca do país sem uma causa ou litígio nosso. Nada do que acontece neste país nos escapa.

Você vai dormir sem pensar em nenhuma dessas milhares de causas?

Durmo. Antes de me deitar, dou uma última checada nas notícias, porque não posso acordar com uma notícia que me choque.

Quem mora com você?

Esposa, quatro filhos e 18 funcionários, no Jardim Europa. Isso é um pouco do Nelson. Mas para me conhecer na íntegra, você precisaria me entrevistar umas três vezes.

E o que é melhor para os profissionais do Direito: um país em crise financeira ou na pujança?

Para a advocacia, a pujança é melhor, sem dúvidas. Mas, se há crise, há choro, e se há choro podemos vender os lenços e oferecer o refrigério.

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POR Celso Arnaldo Araujo

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