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Empreendedorismo dos 90 aos 90 anos

Para o consultor e palestrante César Souza, autor do livro Você é do Tamanho de Seus Sonhos, não há idade-limite para fazer sucesso nos negócios.
E aqui ele explica por quê, além de apontar as características que um empreendedor de sucesso deve ter – independentemente da faixa etária

Por Catarina Arimatéia
Fotos Daniel Cancini

Empreendedorismo - Go'Where Luxo

 

Aos nove anos, ele montou seu primeiro negócio. Fabricava e vendia pipas. Talvez pela influência empreendedora dos pais, donos de uma fábrica que produzia ração para animais, talvez por vocação. Mas César Souza, que anos depois se tornaria vice-presidente da Odebrecht of America Inc. e fincaria suas bases durante 11 anos em Washington (EUA), não acredita que o dom de empreender esteja nas veias. Para ele, é uma questão de aprendizado. E em qualquer idade. Em 1992, o executivo foi considerado pelo World Economic Forum um dos “200 Global Leaders for Tomorrow”. Um título premonitório, já que liderança e visão de futuro sempre estiveram presentes em seu currículo.

Hoje, aos 62 anos, ele está à frente de três negócios: a Casa do Empreendedor, canal de vendas de serviços e produtos para pequenas e médias empresas; o Espaço do Empreendedor, escola de empreendedorismo “para
quem tem negócio e para quem quer ter”, conforme ele diz; e o TrainingPlus, plataforma de tecnologia para programas de treinamento e desenvolvimento. Em entrevista para GoWhere Business, o também autor – são dele os livros Você é do Tamanho de Seus Sonhos e Cartas a um Jovem Líder – Descubra o Líder que existe em Você, entre outros – fala sobre um dos aspectos que mais preocupam os candidatos a empreender: existe uma
idade ou faixa etária certa para isso?.

 

O negócio mais indicado é aquele pelo qual a pessoa tem paixão, vocação, tesão. Se isso existir, a probabilidade de dar certo aumenta muito.

 

Há uma idade mínima – ou máxima – para empreender?

exemplo disso: montei meu primeiro negócio aos nove anos de idade, em 1961, na Bahia, uma microempresa que fabricava e vendia pipas. Isso financiou os meus estudos. Hoje, aos 62 anos, estou empreendendo em
três negócios. Ozires Silva, fundador da Embraer, é outro “serial empreendedor”. Aos 80 anos, ele iniciou a BioPele, empresa na área de biotecnologia. Portanto, não há uma idade certa para empreender. Se você tem
uma boa ideia, esse é o momento.

 

Depois dos 60 anos, você sente que há limites de atuação? Ou a energia é a mesma de antes?

O fato de eu estar empreendendo em três negócios me faz sentir como se eu tivesse 32 anos (risos). Cada um deles me rejuvenesce 10 anos. O limite é ter ou não alguém para ajudar a tocar o empreendimento, já que
sozinho fica mais difícil. Não existe mais aquela história do herói que montava uma empresa sem mais ninguém. Você precisa ter parceiro, alguém em quem você confie e que também confie em você.

 

E quem é o parceiro ideal?

Aquele que complementa. Em uma parceria, se um deles é bom organizador, o outro tem de ser bom atacante para ficar na linha de frente. Se um é bom de vendas, o outro precisa ser craque em finanças, por
exemplo.

 

Abaixo dos 20 anos, que negócios têm mais probabilidade de dar certo? E acima de 60?

O negócio mais indicado é aquele pelo qual a pessoa tem paixão, vocação, tesão. Se isso existir, a probabilidade de dar certo aumenta muito. A única exceção é esta regra: se você gosta de beber, não abra um bar! (risos). E isso vale para todas as idades.

Mas o mercado dita tendências, inclusive em negócios…

Não existe essa história de abrir negócio que tenha a ver com o que o mercado pede. Se a moda hoje é uma startup de tecnologia, e você não tem noção e nem se identifica com o tema, não vai dar certo. Como em qualquer outra profissão, também ao empreender é preciso fazer o que se gosta. O melhor negócio é aquele que está dentro dos seus desejos.

 

O mercado é preconceituoso com pessoas acima de 60 anos que se tornam empreendedoras?

Não, ao contrário. As pessoas respeitam a experiência. Desde que você tenha identificado quem vai tocar o negócio daqui a 10 anos… É preciso existir a possibilidade de continuidade.

 

Financiamentos bancários: a turma dos sessentões está sujeita a regras mais duras?

Não! Essas pessoas costumam ter patrimônio. E têm experiência, portanto sabem evitar certos riscos. Se o candidato a empreendedor vier da área financeira, melhor ainda.

 

Para o negócio dar certo, o que é mais importante: a experiência dos mais velhos ou a impetuosidade dos mais jovens?

Uma boa combinação de ambos.

 

Quais as vantagens de se ter parceiros mais jovens nos negócios?

Os mais jovens encaram melhor o risco, têm energia e disponibilidade de tempo. Eles desejam escrever o seu nome na história, querem que as coisas aconteçam.

 

Independentemente de idade, quais os caminhos que o candidato a empreendedor deve trilhar?

Preparar-se, colocar no papel as ideias, testá-las com terceiros. E, acima de tudo, fazer o que chamo de Plano de Negócios com Alma (marca registrada), que é uma reflexão sobre o negócio, os clientes, os parceiros, os
modelos de estrutura, os sonhos. Quem acha que plano de negócio é só ficar fazendo fluxo de caixa e pesquisa de mercado, está errado.

 

Que conselhos você daria a uma pessoa acima de 60 anos que quer abrir o primeiro negócio?

Faça o Plano de Negócios com Alma, identifique um jovem até 40 anos que será seu sucessor e vá tocar a operação. E isso vale para o oposto também: o candidato a empreendedor abaixo de 20 anos deve procurar um
parceiro, no mínimo, quarentão.

 

Quais os principais erros que um empreendedor muito jovem pode cometer?

Os principais são: ingenuidade para os negócios, ambição desmesurada e afobação. Velocidade é uma coisa, afobação é outra. Não é possível querer tudo no curto prazo, ou seja, desejar investir hoje e já ter lucro daqui
a alguns meses. Um negócio se constrói ao longo dos anos. E por isso mesmo é preciso ter paciência e saber conciliar as necessidades mais urgentes com os objetivos de longo prazo.

 

E quais os maiores erros cometidos por um empreendedor mais velho?

O receio e o conservadorismo são os principais, além da falta de ousadia e de impetuosidade.

 

A capacidade de empreender é inata, nascemos com ela, ou podemos aprender?

Não nascemos empreendedores e nem líderes. A gente aprende a ser empreendedor e líder.

 

Cinco características que um empreendedor deve ter, independentemente da idade…

A primeira delas é a Coragem de Sonhar com Olhos Abertos, com letras maiúsculas. Depois, vem a capacidade de inovação, seguida pela determinação, pela perseverança. A integridade também é imprescindível,
assim como a capacidade de montar parcerias e conquistar aliados.

 

A idade do empreendedor no Brasil

Se os mais jovens estão entre os que mais querem abrir o próprio negócio, são os mais experientes que seguem firmes no mercado. No Brasil, a faixa etária mais ativa em empreendedorismo estabelecido, segundo pesquisa realizada pelo Global Entrepreneurship Monitor (GEM), é a de 45 a 54 anos (24,3%). A maior exceção é a região Centro-Oeste, que tem a maior porcentagem na faixa de 55 a 64 anos (29,4%). Já os jovens
de 18 a 24 anos respondem por apenas 4,5% dos negócios estabelecidos, média brasileira. O Sul do país tem a maior taxa: 6,4%. Em relação ao empreendedorismo inicial – ou seja, pessoas que decidem abrir um negócio –, a idade baixa consideravelmente. A faixa etária mais relevante é a de 25 a 34 anos, nada menos do que 21,9%, seguida de perto por empreendedores de 35 a 44 anos (19,9%) e pelos de 18 a 24 anos (16,2%). De 55 a 64 anos, apenas 8,8% decidiram montar negócio nessa idade.

Realizada anualmente, a Global Entrepreneurship Monitor (GEM) é uma pesquisa internacional que mede a evolução do empreendedorismo em boa parte do planeta – no ano passado, foram pesquisados 68 países, cobrindo 75% da população global e 89% do PIB mundial. No Brasil, a pesquisa é conduzida pelo Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade (IBQP), contando com o apoio técnico e financeiro do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE.

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