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Hoje ele não tem secretária e nem um escritório oficial para servir cafezinho aos convidados. Mas Aleksandar Mandic, ícone do empreendedorismo digital, introdutor do e-mail no Brasil, além do portal iG, continua à frente de seu tempo. Se um dos 14 milhões de usuários do aplicativo Mandic Magic, seu novo projeto, ligar para a central da empresa, terá grande chance de falar diretamente com ele – o Steve Jobs brasileiro.

Por: Shirley Legnani
Fotos: Wellington Nemeth

Ele se recusa a ter carro no Brasil. Anda de bicicleta e pilota seu jato particular, um Citation Mustang. Não tem formação acadêmica e não domina o inglês (mesmo tendo escritórios remotos em Nova York e Miami), mas fala alemão, sérvio e espanhol.  E é um dos mais bem-sucedidos empresários brasileiros no mundo virtual, desde os anos 90 um verdadeiro case de sucesso. Com jeito inquieto e frases de efeito, daquelas que dá vontade de anotar para refletir e replicar, Aleksandar Mandic é o nome forte por trás (ou à frente) da tecnologia digital no Brasil. Nos anos 90, Mandic foi fundador da Mandic BBS (Bulletin Board System), comunidade eletrônica que permitia compartilhar mensagens e arquivos (o atual serviço de e-mail). Em seguida, lançou o portal IG, serviço gratuito de endereço eletrônico. Negócio altamente rentável e vendido mais tarde numa transação de milhões. Como tudo começou?  “Trabalhei na Siemens de 1976 a 1992 e sempre fui interessado em computadores. Mostrei o projeto da Mandic para eles, que, na verdade, era a possibilidade de transmitir dados de uma máquina para outra por modem, e eles não toparam. Aliás, as grandes empresas fogem do que é novo. Então, em 1989, abri minha empresa, a BBS”, relembra o empresário paulistano de ascendência sérvia.

Hoje Mandic ocupa seu tempo com seu mais novo filho de três anos: o Mandic Magic. Sucesso absoluto, o aplicativo feito para quem viaja tem 14 milhões de usuários, o que o coloca no pódio como o aplicativo brasileiro com mais usuários. Sorte? “A diferença é que penso numa coisa e começo a fazê-la. Melhor que sonhar é realizar os sonhos e isso aconteceu com a BBS, o IG, o Mandic e-mail e, agora, com o Mandic Magic. A paixão pelas coisas que faço tem a mesma intensidade de concretizá-las, a única diferença é o prazo. Agora tudo acontece muito mais depressa. Nos anos 90, tínhamos mais tempo para criar e lançar algo. Hoje, tudo é mais rápido e com o mercado de tecnologia a coisa é ainda mais veloz. Se você se forma em medicina, direito, você tem uma base de conhecimento que não muda, você sempre será um médico ou advogado. Na tecnologia, o que você sabe hoje tem grande chance de amanhã não valer mais nada”, diz.

O fascínio pela tecnologia continua, tanto que, na entrevista, durante um agradável almoço no restaurante La Tambouille, Mandic desliza os dedos na tela de seu celular para mostrar as maravilhas do seu aplicativo. “O Mandic Magic surgiu de uma necessidade minha. Viajo muito e sempre busquei o acesso a um leque diversificado de serviços, endereços, dicas, etc. Como não falo inglês, tinha que ser algo fácil de entender. Então criei o aplicativo para acessar wi-fis com senhas disponibilizadas antes por algum usuário, em qualquer lugar do mundo. No primeiro dia, o aplicativo teve 10 downloads. Como estávamos em quatro pessoas, já fiquei animado em saber que seis caras já haviam baixado o aplicativo. No outro dia, mais 40 usuários, depois mais 100, 1.000 e 3.000. Aí o negócio explodiu em dias, chegando à média de 30 mil downloads diários. Sem impulsionar novos clientes, tudo orgânico, ou seja, sem fazer nada, nenhum tipo de ação de marketing ou mídia”.

É melhor aproximadamente agora que exatamente nunca.

E a equipe para organizar tudo isso? “Somos três sócios e a equipe é flutuante, não quero mais empregado, não quero cafezinho e secretária, aliás esse modelo de empresa tende a acabar. As leis trabalhistas quebram muitas empresas. Minha equipe é flutuante, remota e está espalhada por aí, Nova York, Miami, São Paulo. Minha ideia é fazer uma coisa frugal, de empresa simples, moderna, acabar com lentidão, burocracia. Pode ligar no meu número de Miami que eu atendo daqui, do meu celular. É praticamente um disque Mandic 24 horas.

Eu sou o responsável pela empresa e se eu não resolver o problema do meu cliente, quem irá? ”, diz mostrando seu irreverente cartão de visita que, em vez de CEO, diretor geral ou outras definições de cargos de chefia comuns nos cartões, ele aparece como “Dono”.

Aleksandar Mandic

Rede de poder: durante a entrevista, Mandiú recebe ligação do presidente da Microsoft.

Tecnologia e fracassos

Do signo de Leão e aos 61 anos, Mandic não se assusta com o caminho que a internet seguiu, principalmente com o atual fenômeno das redes sociais. “As coisas foram criadas e evoluíram, o Facebook nada mais é do que a versão atual do Chat da BBS. Claro que eu não previa o cenário atual, essa globalização tecnológica, mas nada me assusta, até porque as coisas evoluem, mas elas não acabam. Olha o exemplo do Windows, até hoje é o líder mundial, está aí há mais de 30 anos e só anos mais tarde apareceu um concorrente, o MAC. E, mesmo assim, o Windows ainda é o líder”. E quanto à teoria de que a tecnologia afasta as pessoas? “Acho que existe a netiqueta, a etiqueta da net. Quando almoço, por exemplo, eu guardo o celular e o toque dele é silencioso, nem vibra, pois não quero me distrair. Se estou com alguém, não quero me distrair com mensagens ou e-mails, a não ser se for para mostrar meu aplicativo. Ou seja, se você se distrai com a internet, ela vai consumir as 24 horas do seu dia e, com certeza, você não terá tempo para fazer mais nada, nem conversar com os amigos”.

Amante de vinhos, Mandic comprou a adega de um amigo, dono de importadora, e ficou com uma bela coleção de quatro mil garrafas, com Chateaux e Barolos de dar inveja a muito restaurante. Fora esse prazer, o homem tecnológico gosta de viajar, fazer churrasco e pilotar seu Citation Mustang. Pai de três filhos, apenas um está no mesmo mercado. “Um filho é mestre em Ciências da Computação, mora em Toronto e nem fala português. O mais velho mora na Noruega e trabalha com petróleo na África. O mais novo mora no Brasil e trabalha na BMW”. Se preocupa com sucessão? “Em tecnologia não existe essa coisa de sucessão, ainda mais quando é a própria pessoa que faz acontecer, que entende de tecnologia e pensa fora da caixa”, diz.

Sobre eventuais fracassos na carreira, Mandic acha graça e diz que eles são essenciais para crescer, embora confesse que seu maior fracasso até hoje foi tentar parar. “Adoro ideias que são um fracasso e eu digo: que bom, agora só vamos esperar o concorrente tentar fazer e errar também. Meu maior fracasso foi querer me aposentar. Saber se aposentar é uma coisa legal, mas não é fácil ficar sem fazer nada. Depois da venda do iG pensei: “Agora vou ficar PHD, ou seja, ‘por hora desempregado’, mas não consegui e acabei criando o Mandic Magic”.

Algum novo projeto à vista? “Não. Só faço uma coisa por vez e de uma maneira que não me canse. Eu não tenho hora, sou ligado sempre. Às vezes envio e-mail para meu sócio às 3h da madrugada e às 6h já estou ligando para cobrar uma resposta, uma posição ”. Tem algum mentor ou um empresário que admire? “Quem sempre me incentivou e que acabou se tornando meu sócio é o Beto Sicupira (o bilionário Carlos Alberto Sicupira, um dos controladores da Anheuser-Busch InBev e presidente do conselho da Lojas Americanas). O Steve Jobs também era excepcional, infelizmente não o conheci pessoalmente. Mas conheci o Bill Gates, outra fera nos negócios. Tenho algumas ideias e projetos, sim, mas ainda é cedo para falar”.

Como vê o futuro da internet? “Agora a onda é a do compartilhamento, estamos compartilhando tudo pela internet, de dados a apartamentos, carros, etc. É uma coisa boa, exclui aquele discurso de que isso é meu e ponto. Talvez no Brasil isso demore mais para avançar, como muitas coisas, mas o futuro é igual a infiltração: a água vai passar de qualquer jeito. Se proibir, vai atrasar, e a proibição nunca levou à evolução de nada. É melhor aproximadamente agora que exatamente nunca”.

Um sonho de cada vez

Mandic não abre sobre os valores do seu atual negócio, mas diz que quer chegar a um bilhão de dólares. Falta muito para alcançar? “Hoje o aplicativo se paga e isso é muito bom, mas talvez eu chegue a um bilhão e mude minha meta para três bilhões.

Tudo muda, inclusive o tamanho do sonho”, explica. Quanto ao número de usuários, Mandic é taxativo. “O WhatsApp tem 1 bilhão de usuários, enquanto o Waze tem 50 milhões. Quero me situar entre os dois”.

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